MÚSICA AMBIENTE – Smoke Fairies

Sim, estamos no Inverno. Eu acabo de retornar do Sul e tive dias e, principalmente, noites geladas. Não encontrei neve. Diferentemente do que ocorre em outras latitudes, na cidade fria em que cresci não neva. Em outras latitudes o Inverno vem acompanhado de neve e festividades natalinas. Em comum esses lugares só possuem o frio e uma certa luz diagonal (cortesia da proximidade dos pólos) que, quando incide, não oprime como a luz do verão, mas acolhe. Um leve carinho luminoso em meio ao ar gelado. Essa a sensação que tenho cada vez que escuto as músicas das Smoke Fairies, o duo formado por Katherine Blamire and Jessica Davies. Em “Wild Winter”, lançado no final de 2014, elas pretendiam criar um disco de músicas natalinas, uma tradição de inverno no hemisfério norte, que pudesse ser escutado o ano todo. Pois bem, elas conseguiram. Se há canções cujos títulos e letras remetem ao Natal (“Christmas Without a Kiss”), à neve e nevasca (“Circles in the Snow” e “Snow Globe Blizzard”), inverno (“Wild Winter”) e vinho (“So much Wine) a temática geral é mais sobre certas questões e reflexões que seria melhor não ficassem reservados a uma única noite do ano: Fomos bons ou maus em nossas ações (no rock “Bad Good”)? Gostamos mais de dar ou receber? (na balada “Give and Receive”)? Mas talvez seja a isso o significado de boa música, ou seja, não importa o lugar e o momento no qual foi feita, importa os sentimentos que ela cria no instante e ambiente no qual está sendo escutada. Neste disco há canções que nos lembram do frio da solidão (“There is only so much wine you can drink … and it will never be enough to save you from the bottom of your glass”, em “So much Wine”), mas também do afeto que aquece (“I never know what to give you. If give you the hope that would make you stay” em “Wild Winter”). A chuva lá fora molha o cinza deste dia e desta cidade.  Aqui dentro as vozes de Katherine e Jessica me lembram que o frio mais difícil de aplacar é o que se sente, por vezes, dentro da gente. E para isso a música é ainda um dos melhores remédios. Natal são todos os dias.