MÚSICA AMBIENTE – Mayra Andrade

A primeira vez que ouvi a voz de Mayra Andrade foi na versão de “A menina dos meus olhos”, no álbum de Márcia Castro – “Das coisas que surgem” (também comentado aqui no Música Ambiente). Mal sabia eu que a voz de Mayra tinha muito mais a me revelar. Uma frase muitas vezes repetida: a música nos faz viajar. Normalmente se diz isso para indicar que as canções, os sons e melodias nos transportam para um outro mundo. Pode ser um lugar de introspecção ou de encontro. Relaxar ou dançar.  Mas a metáfora pode ser usada para indicar que a música traz o desejo de conhecer outras culturas, visitar lugares. Escutar o disco “Lovelly Difficult”, o quarto lançado por essa cantora nascida em Cuba, que cresceu entre o Senegal, Angola, Alemanha e ainda Cabo Verde, mas vive em Paris desde 2003, me revela também o quanto o mundo ficou pequeno, o quanto local e global são cada vez um mesmo lugar. Mas porque mesmo com tanta variedade ao alcance dos ouvidos insistimos em escutar as mesmas canções, vindas sempre dos mesmos lugares?

Ouvir Mayra Andrade me lembra o quão presente é, em nosso ambiente, essa África que fala português. Esse lugar tão próximo – elemento forte de nosso passado, parte indelével de nosso presente. Distante um oceano e, ao mesmo tempo, tão próxima. Cabo Verde é um arquipélago de muitos ritmos, mas no disco Mayra dialoga com o contemporâneo.
A canção que abre o CD, “Tempo ki bai”, é pop atual e fala, paradoxalmente, da “sodádi na jardim di nha memória”), e com o mundo. Tem ainda uma levada cubana, que deixa qualquer um alegre, tem música estilo “chanson francesa”, em outras flerta com o reggae e assim por diante.
O melhor de tudo é que a forte presença musical de Mayra faz com que o resultado final não soe desencontrado, há uma identidade dentro da variedade. A voz e a interpretação de Mayra deixam transparecer um local, mas sem apelar para o rótulo “world music”.  Enfim, um disco de uma artista cuja adorável música não é difícil de se apaixonar.  Escute e deixe-se encantar!